O celebre programa BIG BROTHER foi um sucesso. Colocou-nos perante uma ficção impensável de acontecer: víamos e ouvíamos as conversas, mesmo no escuro do quarto.
Alguma vez pensamos que isso viesse a acontecer na nossa vida real? Acho que não.
Veio há dias uma gigante tecnológica americana revelar que ouve as conversas através dos nossos telemóveis. Dizem que é para fins comerciais, ou seja para sermos massacrados com publicidade. Usam o Facebook e a Google, admite a empresa americana.
Há quem já cubra a câmara com receio de estar a ser visto. Paranóia? Pensava que sim. Com estas revelações assumidas já não sei.
Fiz uma experiência.
Falei várias vezes num país que gostava de visitar. Comecei a receber publicidade sobre esse país.
Não surpreenderia que algum software manhoso viesse a permitir que qualquer um ouça o que dizemos e o que se passa à nossa volta.
Parceiros a escutar parceiros. Filhos a escutar pais. E vice-versa. Empregadores a escutar empregados e vice-versa.
Privacidade? Um direito cada vez mais ameaçado.
O ministério das Finanças revelou que está a experimentar e vai pôr a funcionar um programa de IA (Inteligência Artificial) para detetar eventuais fugas a impostos. Vão também ouvir as nossas conversas?
Parece que o sistema de escutas telefónicas autorizadas por um juiz vai passar de moda.
O fins justificarão todos os meios? Incluindo violar o nosso direito à privacidade?
Começarmos a achar que as próprias autoridades poderão fazer isso sem qualquer controlo. Sentimo-nos invadidos na nossa privacidade. É assustador.
EDUARDO COSTA, jornalista, presidente da Associação Nacional da Imprensa Regional
(esta crónica é publicada em cerca de 50 jornais)